26 de outubro de 2016

CAI O PANO – Parte 1 (2)
PROJETO ZONA DE RETAGUARDA: O CORREDOR DE TORDESILHAS (2)
Pequena Introdução
Por ser esta série de artigos longa e ter que ser divulgada em capítulos, pode a princípio passar a impressão de que rumará ao ufanismo antiimperialista, como acontece com tantas outras análises. Não rumará. Ela pretende estabelecer uma base de raciocínio para a discussão de um posicionamento brasileiro em relação às forças de poder mundialmente estabelecidas, a fim de transformar o Brasil, de objeto manipulado, em parceiro consciente, com direito a voto e a todos os benefícios de desenvolvimento, pela posição estratégica que ocupa no cenário de disputa mundial. O objetivo é: Conhecimento, Conscientização, Escolha de Parceiros Ideológicos e Econômicos (Pró-Ocidentais) e Imposição Inteligente de Contrapartidas Beneficiadoras.

A proteção da ZONA DE RETAGUARDA deveria ser feita antes, durante e depois da guerra nuclear. Antes, porque era preciso neutralizar as tentativas de URSS de inviabilizar a área para funcionar como ZONA DE RETAGUARDA (o que era tentado através da esquerdização do Brasil); durante, ainda que uma guerra como essa devesse ser de curta duração, porque a sobrevivência dos aliados do hemisfério norte precisaria que o corredor de suprimentos funcionasse perfeitamente; e, depois, porque certamente, após os ataques nucleares, haveria a continuação dos combates pela guerra tradicional.


Os investimentos, pois, na proteção, começaram pela indústria bélica: o Brasil foi transformado no segundo produtor naval do mundo, no sexto maior produtor de aviões e no sétimo exportador mundial de armamentos. A extraordinária expansão da indústria bélica brasileira garantiu ao país importante posição mundial no fechadíssimo clube de produtores/exportadores de armas.

O sistema de vigilância aérea foi mais simples de realizar, já que no Brasil, o antigo Ministério da Aeronáutica centralizava as duas atividades envolvidas na proteção aérea: proteção ao vôo, de caráter civil, e vigilância/interceptação aérea, de conotação puramente militar. Os investimentos, portanto, quando feitos para a proteção ao vôo, serviam subsidiariamente às necessidades militares, posteriormente atendidas, em parte, pelos projetos CINDACTA I e II (respectivamente em Brasília e Curitiba) – rigorosamente dentro do Corredor de Tordesilhas.

Se a Leste estávamos protegidos pelo Oceano e a Oeste pelos Andes, a noroeste nossa fronteira era fracamente ligada ao resto país – por causa da baixíssima densidade demográfica e da separação física promovida pela calha do Amazonas, além de ser altamente vulnerável às influências dos países limítrofes e da América Central. As tentativas de correção desta vulnerabilidade resultaram em soluções desarticuladas: tentativa de construção da Perimetral Norte, criação da Zona Franca de Manaus, projeto Calha Norte, Projeto SIVAM, etc.

Ao contrário do que acontece no país, nos últimos 20 anos, não parecia existir nos governos anteriores a 1985 uma cumplicidade consciente com essa estratégia alienígena – tanto é que foi preciso usar uma série de artimanhas articuladas por organismos como Banco Mundial, FMI, ONU, entre outros, para que o país fosse caminhando em direção aos objetivos da OTAN. Diferentemente do que ocorre hoje em dia, aqueles projetos realmente pareciam ir de encontro aos anseios nacionais (pelo menos nas intenções). No caso do projeto Calha Norte, por exemplo, era óbvio o interesse nacional envolvido (defender uma área politicamente instável das influências externas), assim como a construção de Brasília representava um importante passo para o desenvolvimento e para a integração do país.

Especialmente no final dos anos 80 discutia-se muito acerca da dívida externa do Brasil, do salto enorme que havia dado desde 1973, de seu inacreditável volume, de suas conseqüências e, principalmente, de suas causas – da suposta leviandade que moveu os banqueiros internacionais ao emprestarem dinheiro a quem não poderia pagar, e do Brasil, ao aceitá-lo. Na verdade, o desejo nacional de um Brasil potência – e o interesse estratégico exógeno de preparação da ZONA DE RETAGUARDA – propiciou, nos quarenta anos após a Segunda Guerra Mundial, uma luta persistente na implantação de uma infra-estrutura capaz de viabilizá-lo.

Isso se constituiu no primeiro degrau de nosso endividamento, mantidas, embora, as condições de controle de nossa balança comercial, que suportava perfeitamente a taxa de acumulação da dívida, na medida em que os prazos para pagamento eram compatíveis com a entrada em operação (e conseqüentemente de retorno financeiro) das obras financiadas. Em se mantendo esse ritmo, O Brasil encontraria o seu grande destino em pouco tempo e passaria não só a interferir nos interesses comerciais dos países do norte, mas principalmente a resolver os seus problemas internos – com a distribuição mais justa de riqueza – desviando-se do rumo externamente pretendido de constituir-se em ZONA DE RETAGUARDA.

Assim, fazia-se necessária uma intervenção, a fim de nos conduzir ao patamar desejado. Ao analisar nossa pauta de importações, seria fácil perceber onde estava o nosso “calcanhar de Aquiles”: 12% eram destinados à importação de petróleo. Surge, então, no jogo internacional, uma nova peça – a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Em 1973, o barril de Petróleo saltou de 3 para 12 dólares, fazendo com que nossa conta anual passasse de 718 milhões para 2.812 bilhões de dólares em apenas um ano, significando um déficit na balança comercial que partiu de zero para 10,5 bilhões de dólares em 3 anos.

Não havia como pagar, senão recorrendo a empréstimos externos. Para fazer estes empréstimos, os bancos internacionais exigiam que o Brasil tivesse um saldo mínimo na Balança Comercial. Por isso o país diminuiu as importações e aumentou extraordinariamente suas exportações. Entretanto, o petróleo passou a ocupar grande parte destas importações, na medida em que precisávamos dele para alimentar a indústria da exportação. E, como os preços do petróleo fugiam ao nosso controle, eles eram sistematicamente aumentados e nossa dívida não parava de crescer, ainda que nossa balança comercial apresentasse valores superavitários recordes.

Inteligentemente, o Brasil investiu na mudança do perfil de consumo de combustível interno com o programa Proálcool, inclusive com a criação de automóveis movidos exclusivamente a álcool. Nossa conta de petróleo caiu, de 1981 a 1984, de 11 para 6,8 bilhões de dólares. Havíamos vencido a crise? Não. Surgiu um novo inimigo no jogo: a partir de 1979/80, as taxas de juros sairiam do patamar histórico de 6/7 % para os inimagináveis 21,5% ao ano. À época, o Presidente do Banco Central dos EUA (Federal Reserve System), Paul Volcker disse: “A taxa de juros desgarrou-se da inflação, da prudência e da História. Essa perversão pode desencadear a recessão em escala mundial e provocar a inadimplência de todos os países endividados em moeda forte”. Como poderia o Presidente do Banco Central da maior potência mundial permitir que isso acontecesse? Simples: o dinheiro obtido pelos estratosféricos superávits da Balança Comercial da ZONA DE RETAGUARDA deveriam SEMPRE ser usados para pagar os juros da dívida externa e não para aumentar o consumo interno (que viriam com o desenvolvimento, com a criação de empregos e com a melhor distribuição de renda).

Para diminuir a pressão das importações no resultado da balança comercial, tivemos que produzir internamente o máximo que podíamos – foi a política de substituição de importações. Por outro lado, tivemos que exportar para gerar divisas. Contra tudo e contra todos, o Brasil demonstrou uma capacidade e uma vitalidade incríveis para construir o país que tínhamos até os anos 80. Bastou que nos dessem uma chance de produzir e trabalhar – apesar de isso ter acontecido por causa dos objetivos estratégicos do Ocidente – para que o povo brasileiro se agigantasse e passasse a constituir um perigo para os países desenvolvidos, que, então, começaram a nos trancar as portas das tecnologias de ponta.

Há 50 anos, o Brasil era um gigante energético adormecido. Em 1945, a capacidade energética do país era da ordem de 2 milhões de quilowatts; de lá para cá, pelo menos até a década de 80, ela cresceu num ritmo de 1,5 milhões de quilowatts por ano. A grande exceção nessa rota de incessante sucesso de infra-estrutura energética foi a tentativa de implantação de centrais nucleares. A Índia era um país em desenvolvimento como o Brasil, por exemplo, e nem por isso tive dificuldades em construir sua bomba atômica nem de lançar ao espaço satélites artificiais com foguetes próprios. O mesmo não aconteceu quando o Brasil lançou o foguete SONDA IV, com capacidade para transportar 500 quilos de carga.

Um estudo realizado pelo Congresso norte-americano concluiu que o Brasil produzira, graças ao programa paralelo nuclear brasileiro, um sistema para guiar mísseis que poderia tornar a próxima geração de mísseis brasileiros idêntica aos que as superpotências possuíam à época – o Pershing I e o Scud-B – com igual tamanho e carga (obviamente tratava-se do SONDA IV e de sua versão composta, o VLS – Veículo Lançador de Satélite), que em 1989 poderia conduzir o primeiro satélite do Brasil à órbita.

No que tangia à energia atômica em si, o sobressalto residia na não assinatura, pelo Brasil e pela Argentina, do Tratado de Proscrição de Armas Nucleares na América Latina e Caribe (Tratado de Tlatelolco), o que resultaria em concordância de fiscalização de nossas instalações pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). Todos os entraves à decolagem de nossas Usinas Atômicas Angra II e III foram em decorrência da Estratégia Nuclear Ocidental.

Na verdade, as coisas começaram a sair do controle quando o Brasil fez um acordo de transferência de tecnologia nuclear com a Alemanha, em 1975, que resultou na contratação da construção das Usinas Nucleares Angra II e III. O projeto nuclear próprio do Brasil envolvia as Forças Armadas, a Secretaria Geral do Conselho de Segurança Nacional e o Serviço Nacional de Informações (SNI). Foi nessa época que as “forças ocultas estrangeiras” começaram a orquestrar a hostilização das FFAA, encantando os inocentes e os esquerdistas de plantão com os discursos de “direitos humanos”, “redemocratização”, etc. O Presidente “relâmpago” (tanto para chegar à presidência como para sair de lá), Fernando Collor de Melo foi o resultado prático dessa hostilidade.

Um dos primeiros atos do Presidente eleito foi extinguir o SNI, o Conselho de Segurança Nacional e a Nuclebras. O Brasil assinou finalmente o Tratado de Tlatelolco, obrigando-se a ser vigiado em seus projetos nucleares por comissões dos países desenvolvidos do Ocidente, e as atividades nucleares das FFAA foram inviabilizadas pelos cortes nos recursos. Foram retardados e até inutilizados projetos como: a base de lançamento de Alcântara e de foguetes; o submarino nuclear; os reatores de grafite; e enterrou-se o chamado “Buraco de Cachimbo”, destinado a explosões nucleares subterrâneas. Estava inaugurado no Brasil o processo de sucessão eleitoral de candidatos conscientemente comprometidos com as estratégias internacionais de dominação do nosso país. Morriam a inocência e o patriotismo – tudo embotado no engodo da civilização global. E, foi aí também, que o Bloco Oriental percebeu uma nova chance de conquistar a ZONA DE RETAGUARDA da América do Sul para si.

Há que se prestar muita atenção: as forças que levaram Collor à Presidência (1990) não são as mesmas que o tiraram de lá (1992). O episódio do impeachment e da renúncia do Presidente Fernando Collor de melo foi o marco inicial da Nova Revolução Comunista no Brasil, não para implantar no país o velho comunismo, como o conhecemos, mas o seu sucessor – o Capitalismo de Estado associado à Democracia de Um Partido Só (ainda que com vários nomes).
continua...

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